Uma História em Três Séculos

I. A formação da Cia. Docas de Santos

Em 1808, D. João VI decretou a abertura dos portos do Brasil. Em 1869, o governo decidiu tomar providências para "construção, nos diferentes portos do Império, de docas e armazéns para carga, descarga, guarda e conservação de mercadorias de exportação e importação". Em troca, concederia licenças de exploração de até 90 anos.

A concorrência foi realizada em 1886. A licitação pública atraiu seis grupos de investidores. Os vencedores foram definidos em 1888: José Pinto de Oliveira, C. Gaffrée, Eduardo P. P. Guinle, João Gomes Ribeiro de Avelar, Dr. Alfredo Camilo Valdetaro, Benedito Antônio da Silva e Ribeiro e Barros Braga. Em 11 dias, foi constituída a firma Gaffrée, Guinle & Cia.

Em 03 de novembro de 1892, com o porto já em operação, Gaffrée, Guinle & Cia. foi incorporada para formar a Companhia Docas de Santos, que, além da construção e operação do porto, tinha como objetivos o comércio em geral e os serviços de comissaria, agências de navegação e transportes terrestres.

A abolição da escravatura e a queda do Império haviam provocado transtornos na economia. Além disso, existiam sérias dúvidas sobre a capacidade de a iniciativa privada conduzir um empreendimento de tamanha magnitude. Vencidas as adversidades, a empresa, fundada na última década do século XIX, honrou seus compromissos por 92 anos, até transformar-se, em 1980, em Docas S.A.

II. Santos e o Porto

Para percorrer tão longo caminho, Docas precisou transformar a própria cidade de Santos, cujas condições sanitárias eram de extrema precariedade – cerca de 3.500 operários morreram na construção do porto, entre 1889 e 1892. O primeiro trabalho de grande efeito social de Docas foi o saneamento do porto e da cidade de Santos, que não contava com serviço de água nem de esgotos. A própria construção do cais possibilitou a drenagem das águas contaminadas.

No início de 1892 estavam prontos os primeiros 260 metros do porto, que, em 02 de fevereiro daquele ano, recebeu o primeiro navio, o cargueiro inglês Nasmyth. Em junho, os trilhos do cais já estavam interligados aos da São Paulo Railway. No primeiro ano de funcionamento, a carga e a descarga no porto somaram quase 125 mil toneladas, um número extremamente elevado para a época.

Ao fim da concessão, em 1980, tinham sido movimentados 516 milhões de toneladas de mercadorias. Santos havia se tornado um dos 15 maiores portos do mundo.

III. A Diversificação das atividades

A permanente expansão dos negócios é uma característica marcante de Docas desde sua origem. No início do século XX, a empresa entrou no setor de energia: em 1910, a Usina de Itatinga começou a fornecer eletricidade ao porto e à cidade de Santos. Cândido Gaffrée e Eduardo P. Guinle haviam formado a Companhia Brasileira de Energia Elétrica, que atuava em municípios fluminenses e baianos.

Em Salvador, a CBEE comprou os direitos de exploração dos serviços telefônicos e de linhas de bonde. Passou também a atuar em Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Os investimentos foram se diversificando cada vez mais e, em 1923, era inaugurado o Copacabana Palace Hotel, da família Guinle.

Uma medida de profundo alcance social foi a criação da Fundação Gaffrée e Guinle, em 1919. No seu auge, durante os anos 50, a fundação tinha 13 ambulatórios médicos no Rio e em Santos, além de um hospital na Tijuca.

A segunda geração dos Guinle foi representada por Guilherme, terceiro filho de Eduardo, que permaneceu quatro décadas à frente do grupo. Sua gestão marcou o ingresso do grupo no setor financeiro. Guilherme foi o fundador do Banco Boavista.

IV. O término das operações portuárias

Em 1980, conforme o contrato original, Docas entregou a concessão do Porto de Santos. Na ocasião, a companhia deixou em seu caixa, sem que isto lhe fosse exigido, Cr$ 275 milhões à disposição do governo.